Baixos estoques e oferta reduzida, em decorrência de fatores climáticos, devem seguir levando as cotações a novos patamares históricos nos próximos meses

Perdas devido ao clima, redução de estoques e demanda aquecida: esses são os fatores que têm ditado o comportamento das cotações do café no mercado interno e externo. 
No acumulado de janeiro, o preço da saca de 60kg do grão tipo arábica avançou 12,44%, com média de R$ 2.506,02 no encerramento do mês. Esse é o mais alto patamar registrado da série histórica, iniciada em 1966. Há exato um ano, a mesma saca valia R$ 1.018,13, ou seja, a alta anual chega a quase 150%. 

O mesmo cenário se repete para o grão tipo conilon, historicamente negociado a níveis inferiores, mas que chegou a superar o preço do arábica pela primeira vez na história em 2024. O valor médio da saca atingiu R$ 2.088,44 no encerramento de janeiro, com ganhos de 13,96%. 

A analista de inteligência de mercado de café da Hedgepoint, Laleska Moda, explica que o cenário observado hoje é reflexo de um histórico de quebras de safra e produções insuficientes nos principais países produtores. Segundo Moda, o quadro de perdas foi iniciado em 2021, com uma forte quebra na safra do Brasil em decorrência de geadas que atingiram as plantações. Desde então, a recuperação da produção tem sido limitada por condições adversas, incluindo períodos de seca e altas temperaturas. 

“Podemos dizer que o pico foi em 2023/2024. O que aconteceu? Ao mesmo tempo que o Brasil estava se recuperando aos poucos, também passava por problemas climáticos. Além disso, tivemos um problema muito sério no Vietnã e na Indonésia, que são os maiores produtores de robusta. Isso levou a uma forte redução na produção de robusta em 2023 e no começo de 2024, o que foi percebido pelo mercado, já que esse café é amplamente utilizado no café solúvel […]. Como resultado, os preços do robusta começaram a subir bastante”, relembra Moda.

Ao passo em que a oferta diminui, a procura pelo grão aumenta, forçando os países consumidores a reduzirem os seus estoques. “Normalmente, a gente tem uma safra com uma quebra, mas depois ocorre uma recuperação. Isso ajuda a equilibrar a situação. O problema, no entanto, são os estoques baixos”, sinaliza a analista da Hedgepoint, ressaltando que há cerca de quatro safras a produção está abaixo da demanda.

Laleska ressalta que, embora a Colômbia, terceira principal nação produtora de café, tenha apresentado sinais de recuperação, sua produção estimada de 13,5 milhões de sacas é insuficiente para reverter o quadro global. E, ao que tudo indica, não há uma mudança tão próxima no horizonte, principalmente, após a Companhia Nacional de Abastecimento, projetar uma safra brasileira de café 4,4% menor em 2025, frente ao ano anterior. 

A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) reforça essa percepção. Conforme o diretor executivo da entidade, Celírio Inácio, o índice de oferta de café para a indústria, chamado de IOCI e utilizado para monitorar a disponibilidade do grão no mercado, aponta seletividade no suprimento, tanto para o arábica quanto para o conilon. “Isso significa que as empresas, independentemente do porte, não têm uma oferta regular de café em grão. E esse cenário, na verdade, já vem há mais de um ano, com o abastecimento se mostrando sempre seletivo e, às vezes, até crítico”, detalha Inácio. 

Além da escassez, o setor enfrenta desafios financeiros, já que o capital de giro necessário para manter estoques subiu expressivamente. Uma empresa média que antes precisava de cerca de duas mil sacas para se proteger do preço médio, hoje teria que desembolsar quase quatro milhões e meio de reais para manter o mesmo volume. “Isso também faz com que ela [empresa] compre menos. Ela vai se manter compradora, mas com menores volumes. Então, isso tudo mostra que o mercado está passando por uma dificuldade de todos os sentidos”, acrescenta o diretor executivo da ABIC.

Demanda segue aquecida
Apesar das perdas de produtividade, a busca pelo grão seguirá aquecida. Projeção do Itaú BBA, indica um crescimento de 3,1% no consumo global de café no ano safra 2025/2026, o mesmo ritmo da safra anterior (2024/25). “Considerando nossa projeção para o Brasil em 2025/26 e mantidas constantes as produções dos demais países produtores, a diferença entre a produção e o consumo global ficará levemente negativa (-0,4%), um cenário ainda mais apertado que o do ano anterior, enquanto a relação estoque/consumo cairá de 17% para 13%”, aponta relatório da instituição.

O resultado desse desequilíbrio deve ser a continuidade da alta nos preços, pelo menos até o início da colheita brasileira, entre final de maio e início de junho. “Quando você olha para a comercialização da safra 2024/25, a gente tem pouco café disponível no Brasil para fazer novos negócios até a entrada da nova safra. Então, você tem basicamente meio ano aí, sem a presença forte dos produtores brasileiros”, pontua Moda. 

Ela observa que, se olho na situação no Brasil, os outros produtores, como o Vietnã, que tem café disponível agora, ou a Colômbia e América Central, que também estão no período de colheita, estão segurando esse café, esperando preços maiores. Com isso, as perspectivas são de um mercado de café aquecido ao longo de 2025. “A saca de café continua disputada, portanto valorizada, e assim vai continuar até que tenhamos melhores expectativas”, indica Celírio Inácio.