Em cinco anos, rebanhos criados a pasto sequestraram 282 mil toneladas de carbono, equivalente a 180 carros, aponta estudo apresentado durante o Estadão Summit Agro

A pecuária bovina não é uma vilã das emissões de carbono da atmosfera. A afirmação é do consultor José Carlos Pereira de Freitas, especialista em ESG/Sustentabilidade levada aos Agronegócios, que participou do Estadão Summit Agro, nesta quarta-feira, 13, em São Paulo. 

Na ocasião, Freitas apresentou dados de um experimento feito pelo Projeto Carbono Araguaia, desenvolvido durante cinco anos em 24 fazendas que totalizam 80 mil hectares no Vale do Araguaia, em Mato Grosso. O estudo demonstrou que o gado criado a pasto, principal característica da agropecuária tropical, reduz a pegada de carbono. As frequentes medições realizadas pelo projeto demonstraram que, nesse período, os rebanhos sequestraram 282 mil toneladas de carbono — o equivalente a 180 carros rodando por ano.  

Freitas disse, também, que a atividade pecuária não depende de desmatar para produzir. De acordo com o consultor, áreas desmatadas são frequentemente ocupadas com gado para atender a outros interesses, como a especulação imobiliária. Mas, ao longo de 32 anos (de 1990 a 2022), o Brasil aumentou a produtividade bovina em 170%, poupando 282 milhões de hectares de florestas. 

“Conforme os experimentos, colocar até quatro animais por hectare zera as emissões. Isso porque o boi é um filtro. Ele reincopora o carbono do metano que se decompõe no ciclo agropecuário.” 

Alinhamento das questões econômicas e climáticas
Freitas lembrou que o Brasil é o quinto país que mais emite carbono, porém, a agropecuária nacional tem contribuído para a redução dos índices. Prova disso é que, no mesmo período de 32 anos, o país aumentou a produtividade de grãos em 445% — quatro vezes mais que o crescimento da área plantada, que foi de 111%. “Graças aos avanços tecnológicos, o Brasil não só evitou desmatar como realizou o plantio de 10 milhões de hectares de florestas”, defendeu o especialista. 

Outro dado mencionado é que 86% da matriz energética nacional já é renovável. “Acredito que exista um silêncio obsequioso sobre as virtudes da agricultura que se pratica nos trópicos. Precisamos falar delas. Uma parte disso cabe aos cientistas. A outra, a uma discussão política e social”, disse, cobrando um aprimoramento da comunicação, para que sejam disseminadas informações corretas. 

Para avaliar se uma pecuária é sustentável, na visão do consultor, é preciso se perguntar sobre os impactos que ela gera na cultura e na economia de um país, na alimentação e no clima. “Antigamente, os atributos de uma boa carne eram maciez, suculência, entre outras características físicas. Hoje, agrega-se aos atributos da carne os da sustentabilidade.” 

Nesse cenário, as fazendas não podem ser vistas apenas como áreas de produção, mas como um todo que inclui florestas, rios, entre outros elementos. “Estamos diante da mensagem de que precisamos aliar as questões econômicas à agenda climática. E, nesse caso, não adianta matar o mensageiro. Mesmo se fizermos isso, a mensagem vai chegar.”